Artigo 5: Modeling Match Performance in Elite Volleyball Players: Importance of Jump Load and Strength Training Characteristics
1 Sobre o que trata o artigo
O artigo “Modeling Match Performance in Elite Volleyball Players: Importance of Jump Load and Strength Training Characteristics”, publicado em 2022 na revista Sensors, apresenta um estudo de aplicação de técnicas de aprendizado de máquina para entender o desempenho de atletas de vôlei de alto rendimento. Especificamente, os autores buscam prever a qualidade da performance técnica de cada jogador com base em informações físicas, fisiológicas e subjetivas, coletadas ao longo de uma temporada inteira.
A proposta metodológica do trabalho é inovadora por combinar algoritmos supervisionados como XGBoost e Random Forest com técnicas de descoberta de subgrupos, para não apenas prever a performance, mas também interpretar padrões que ajudam a explicar o que leva a um bom ou mau desempenho.
Entre os elementos analisados estão:
- Quantidade e altura dos saltos realizados nas semanas anteriores às partidas.
- Cargas de treino muscular, registradas em kg absolutos e em % de 1RM (One Repetition Maximum).
- Análise técnica das ações em quadra (ataques, recepções, saques), feitas por especialistas com o software Data Volley.
2 Motivação e contexto
A motivação do estudo surge da limitação frequente de se focar apenas em estatísticas de jogo isoladas, como pontos ou erros. O artigo propõe uma abordagem multifatorial, que considera também o estado físico e mental anterior à partida — algo crucial no vôlei, esporte que exige força explosiva e gestão cuidadosa da carga de treino.
O estudo também responde a uma necessidade prática: há muitos dados coletados em clubes de elite, mas poucos estudos que integram essas informações ao desempenho técnico. Assim, o trabalho aproxima ciência de dados e prática esportiva.
3 Como foi feito o estudo
3.1 Participantes e acompanhamento
Durante uma temporada competitiva de 24 semanas, foram acompanhados 25 jogadores da seleção masculina holandesa de vôlei. Apenas 17 jogadores com dados completos foram analisados.
3.2 Coleta e tipos de dados
Os dados foram coletados por:
- G-VERT: dispositivo para saltos (volume, altura e tipo: baixo, médio, alto).
- Questionários subjetivos (ex.: RPE): percepção de esforço após treinos.
- Autoavaliações diárias: fadiga, sono, humor.
- Registros de treino de força: pesos por grupo muscular.
- Software Data Volley 4: avaliação técnica das ações de jogo (notas de 0 a 10).
3.3 Pré-processamento e engenharia de atributos
Os dados foram agregados em janelas móveis de 7, 14 e 28 dias anteriores a cada jogo. Foram calculadas médias, desvios padrão, quartis, etc., resultando em 237 preditores, como:
- 72 preditores de saltos.
- 81 de exercícios de força.
- 48 de bem-estar subjetivo.
- 27 de carga de treino (monotonia, strain).
- 9 de frequência de treinos.
4 Modelagem e análise de padrões
4.1 Modelos preditivos
- XGBoost e Random Forest foram usados para prever notas de ações ofensivas (ataque e saque) e defensivas (recepção e bloqueio).
- Métrica: Erro Absoluto Médio (MAE).
4.2 Descoberta de Subgrupos
Usada para identificar padrões interpretáveis que distinguem boa e má performance. Exemplo: jogadores com baixa variação em saltos altos nas últimas 4 semanas tendem a performar pior em recepções.
5 Principais Resultados: Desvendando os Fatores-Chave do Desempenho
5.1 Desempenho ofensivo
- Positivo: Exercícios de membros inferiores >90kg nas últimas 4 semanas → melhor ataque.
- Negativo:
- Treinamento pesado de membros superiores (>0.9% do 1RM).
- Alta variação de carga de corpo inteiro (>17.6kg).
- Baixa altura de saltos ou pouca variação em saltos altos.
5.2 Desempenho defensivo
- Variação (>9.75) e excesso (média ≥11.6) de saltos altos nas 2 semanas anteriores → pior desempenho no passe.
5.3 Bem-estar subjetivo
Não apresentou relação estatisticamente significativa com desempenho.
5.4 Modelos preditivos
Redução no MAE de: - 36-47% no desempenho ofensivo. - 59-74% no defensivo, em relação ao modelo de base.
6 Aplicações e Implicações
6.1 Personalização de Treinamento
- Atacantes: foco em força de membros inferiores, evitar sobrecarga nos membros superiores.
- Passadores: controlar variação e volume de saltos altos próximos ao jogo.
6.2 Generalização da metodologia
A metodologia pode ser usada em:
- Educação: desempenho de alunos em função de rotina de estudo e descanso.
- Empresas: impacto de tarefas, horários e descanso na produtividade.
7 Riscos e Limitações
7.1 Limitações metodológicas
- Amostra pequena (17 atletas).
- Poucos dados para algumas ações (ex.: bloqueios).
- Modelos complexos não superaram drasticamente modelos simples.
- Não se considerou o nível da partida (amistoso vs. torneio).
7.2 Questões éticas
- Controle excessivo: risco de ambientes opressivos.
- Privacidade: dados sensíveis como humor e fadiga devem ser protegidos.
- O estudo não compartilhou dados publicamente por serem da NeVoBo.
8 Conclusão: O Potencial e a Responsabilidade da IA no Esporte
O estudo mostra o poder da IA na ciência do esporte, especialmente ao integrar dados objetivos e subjetivos para prever e explicar o desempenho. As descobertas permitem intervenções práticas e personalizadas, mas também trazem responsabilidades éticas — como proteger a privacidade e evitar o uso abusivo da vigilância.
O equilíbrio entre precisão técnica e sensibilidade humana será crucial para que a tecnologia empodere atletas e não os controle.
9 Referência Bibliográfica
de Leeuw, A.-W., van Baar, R., Knobbe, A., & van der Zwaard, S. (2022). Modeling Match Performance in Elite Volleyball Players: Importance of Jump Load and Strength Training Characteristics. Sensors, 22(20), 7996. https://doi.org/10.3390/s22207996